sábado, outubro 01, 2016

Mais vale cair de podre do que nas mãos de privados







A aversão do PCP à iniciativa privada é de há muito conhecida, não obstante os desmentidos e juras vindos dos seus dirigentes, e desta vez no centro das atenções está o património histórico e cultural português.

Portugal, felizmente, é rico, diria mesmo riquíssimo em património, mas o problema é que o Estado não consegue garantir a sua conservação. O Partido Comunista Português prefere deixá-lo cair de podre, o principal é que não sejam geridos por entidades privadas.

Os dirigentes comunistas têm razão quando afirmam que “a política do património não pode estar sujeita ou subordinada ao ‘mercado’ e à política de turismo. Antes, a política para o património deve intensificar a ligação cultural entre as populações e o património, integrar o património edificado na vida e quotidiano do país, resultando num valorização e preservação vivida e fruída coletivamente”.

Mas será que o Estado e as autarquias têm meios financeiros e outros para não necessitarem da cooperação com os privados na preservação do património?

Quem viaja por Portugal constata que há um grande número de monumentos em estado precário ou mesmo em ruínas, há antigos conventos e mosteiros abandonados, palácios e casas senhoriais à espera de obras urgentes. Não fosse a sua transformação em pousadas ou hotéis, e muitos monumentos já não existiriam.

Por exemplo, porque é que os sinos do Convento de Mafra continuam calados e os carrilhões só ainda não caíram por estarem suportados por estruturas metálicas? Sinto vergonha quando sou obrigado a dizer aos meus amigos estrangeiros que os sinos não tocam porque não há dinheiro para restaurar os carrilhões. Dizem que são necessários sete milhões de euros para recuperar uma das maravilhas de Portugal. E o Estado não tem dinheiro para isso.

Por outro lado, há boas experiências de cooperação do Estado com entidades privadas na conservação das nossas riquezas artísticas. Basta olhar para os palácios de Queluz, da Pena.

Quando eram geridos pelo Estado, era evidente que necessitavam de obras de restauro, mas hoje são geridos por privados que têm aí realizado grandes trabalhos de recuperação. O Palácio de Queluz ganha a sua cor original (azul) e o seu interior está a ser melhorado. O mesmo se observa no Palácio da Pena.

Neste sentido, é particularmente demagógica a posição dos dirigentes comunistas face ao Forte de Peniche.

“Pelo simbolismo que encerra, não podemos deixar de criticar de forma veemente o facto de o Governo ter colocado nesta lista a Fortaleza de Peniche, ignorando a importância histórica e cultural de um espaço onde não é possível conciliar a atividade hoteleira e turística com a necessidade de preservar integralmente as suas características prisionais históricas”, lê-se no comunicado do PCP.

Como é que a concessão à iniciativa privada deste monumento, que o PCP considera ser monopólio seu da luta contra o fascismo, embora por essa prisão tenham passado militantes de outros sectores da oposição, pode prejudicar o seu valor simbólico e didáctico? Não acredito que o actual Governo português, que goza do apoio dos comunistas, deixe transformar a Fortaleza de Peniche em algo que traia a memória dos antifascistas que por lá passaram?

Se a parte museológica for conservada, porque não permitir a rentabilização da restante Fortaleza?  Segundo li na imprensa, um vereador comunista da Câmara de Peniche apoiou a proposta do governo e penso que ele estará mais dentro do assunto do que os dirigentes de Lisboa do seu partido.

Quando se fala em concessão a privados da exploração de monumentos nacionais, não significa que o monumento deixa de ser propriedade pública. Além disso, são muitas as autoridades encarregadas por velar pela conservação do património público, pelo cumprimento do estipulado nos contratos de concessão.

A fobia à iniciativa privada continua no código genético dos comunistas e ficou provado que essa não é a melhor forma de se desenvolver um país. São necessárias novas ideias, inovadoras, no campo da guarda do património e algumas certamente passarão pela cooperação entre os sectores público e privado.

Afinal, os sinos de Mafra, quando tocavam, soavam para todos. E agora?

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